Como um Silencioso Ouvinte pode Falar na Terra dos Surdos Falantes?
O silêncio é uma arte em extinção. Vivemos em tempos em que todos falam, mas poucos escutam. É um paradoxo cruel: o excesso de vozes cria um vazio ensurdecedor. Como, então, alguém que prefere ouvir pode ser compreendido na terra dos surdos falantes? Essa é uma pergunta que ressoa profundamente em mim, moldada por anos de observação e análise silenciosa de um mundo que se perdeu em seu próprio ruído.
Vivemos em tempos onde a ironia se transformou na lei que rege a nossa percepção da realidade. Falo isso com a convicção de quem caminha por entre as sombras da informação, observando atentamente a confusão deliberadamente arquitetada que nos cerca. Eu, um silencioso ouvinte, me vejo muitas vezes perdido na Terra dos Surdos Falantes, um lugar onde todos gritam, mas poucos escutam.
A realidade em que estamos imersos não é natural. Ela foi meticulosamente construída, tijolo por tijolo, por mãos que conhecem os segredos mais profundos da psique humana. Esses arquitetos do pensamento coletivo entenderam que a verdade, por sua própria natureza, é indomável. Esconder a verdade seria inútil, pois, como água represada, ela inevitavelmente encontraria uma brecha e emergiria, trazendo consigo a revolução.
Você pode estar se perguntando: “Por que o silêncio? Por que o cuidado em como relatar a verdade?” Deixe-me esclarecer. Assim como eles — os mestres do engano — usam as ficções para embaralhar nossas mentes, eu uso a ficção como uma lâmina que corta a ilusão, revelando suas fantasias com a realidade. Em meio ao labirinto de mentiras, a verdade não desapareceu; foi apenas disfarçada, diluída em um mar de incertezas.
Por isso, eles foram astutos. Ao invés de esconder a verdade, decidiram corrompê-la. Misturaram-na com mentiras habilmente elaboradas, de forma que se tornou impossível separar o que é real do que é ilusório. Criaram um emaranhado de informações fragmentadas, uma sopa caótica onde a ignorância deixou de ser o maior mal. Hoje, o verdadeiro vilão é a própria informação — manipulada, distorcida e, acima de tudo, excessiva.
E aqui reside o problema: como apresentar a verdade quando ela foi ofuscada e banalizada? Antigamente, ocultar a verdade era suficiente para manter as massas sob controle. Eles sabiam que tudo que está oculto eventualmente sobe à superfície — pela própria força gravitacional da verdade, que nunca se deixa enterrar para sempre. Assim, uma nova estratégia foi desenhada: misturar o real e o falso, criando uma sopa indigesta de informações fragmentadas. Dessa forma, a verdade não é mais invisível — ela é simplesmente irreconhecível.
Já percebeu como nos inundam com dados a todo instante? Notícias, notificações, opiniões… tudo misturado em uma torrente avassaladora que nos paralisa, incapazes de discernir. No meio dessa confusão, inserem sutilmente ideias falsas, implantes mentais que se enraízam em nosso subconsciente como se fossem verdades inquestionáveis. Isso não é por acaso; é estratégia.
O que isso faz conosco? Sobrecarrega nossas mentes. Somos inundados por um dilúvio de informação desconexa e editada, onde cada pedaço carrega um pouco de verdade, mas também um veneno sutil — ideias falsas implantadas com a precisão de um cirurgião. Ignorância não é mais o maior mal; o mal agora é a própria informação. Como Lao Tsé disse há milênios: “Excesso de facilidade traz excesso de dificuldades.” Hoje, digo: excesso de informação traz excesso de ignorância.
Quando percebi isso, um turbilhão de emoções tomou conta de mim: indignação, impotência, solidão. Eu tive acesso a informações que muitos jamais imaginariam. Não por mérito especial, mas porque escolhi me silenciar. Escolhi observar. E, no silêncio, vi o que outros não conseguem ver no barulho incessante de suas próprias vozes. No entanto, minha maior dificuldade sempre foi como transmitir isso sem ser engolido pela máquina que banaliza tudo o que toca.
Escrever se tornou meu refúgio. Ao colocar palavras no papel, encontro uma forma de ordenar o caos, de dar sentido ao que é tão deliberadamente confuso. E mesmo assim, o cuidado é imenso. Como falar a quem já não ouve? Como contar uma verdade que foi deliberadamente desacreditada? Lao Tsé, em sua sabedoria atemporal, dizia: “O excesso de facilidade traz excesso de dificuldades.” Na era da informação, isso nunca foi tão verdadeiro. O excesso de dados, ao invés de iluminar, cega.
E é por isso que escolho o silêncio. Escolho a literatura como minha voz, pois ela me permite falar ao coração e à mente sem ser engolido pela tempestade de barulho que dominou as redes sociais. Escrever é um ato de resistência, um convite ao pensamento profundo em um mundo que exige respostas rápidas e descartáveis. Mas escrever também é um ato solitário. Na Terra dos Surdos Falantes, muitas vezes me sinto como uma figura isolada tentando encontrar a linguagem certa para comunicar algo que nem todos estão prontos para ouvir.
Há uma solidão profunda em ser aquele que ouve em um mundo que só fala. Não é fácil encontrar uma linguagem que atravesse as barreiras do ruído e alcance o coração de quem está perdido. Mas eu aprendi algo: é na ficção que a realidade se revela. Assim como eles usam histórias para confundir, eu uso histórias para expor. Quando a verdade é transformada em metáfora, ela se torna poderosa — escapa das armadilhas da mente e atinge a alma.
Essa é a minha missão. Não sou um pregador, não sou um profeta. Sou apenas alguém que escolheu o silêncio para enxergar além do véu. E agora uso a literatura como uma ponte, uma forma de falar sem gritar, de ser ouvido mesmo quando a maioria prefere tapar os ouvidos.
Ainda assim, persisto. E persisto porque acredito que o silêncio é uma força poderosa. Na Terra dos Surdos Falantes, o silêncio não é apatia; é observação. Ele é uma espada afiada, capaz de cortar as correntes da confusão. Um ouvinte atento pode perceber o que os outros ignoram. E mais importante: um ouvinte atento pode falar — não com palavras gritadas, mas com mensagens que ressoam nas profundezas da alma.
Minha luta não é contra pessoas, mas contra ideias falsas que foram implantadas como verdades. E meu maior desejo é que, ao ler estas palavras, você, que por acaso chegou até aqui, sinta um chamado. Um chamado para desacelerar, para silenciar o barulho ao seu redor e dentro de si. Porque é no silêncio que a verdade se revela. E talvez, assim, possamos juntos descobrir uma nova forma de nos comunicar — não com gritos ou argumentos, mas com a sabedoria tranquila que só o silêncio pode oferecer.
Minha missão, portanto, é essa: encontrar a melodia no caos, separar a verdade da mentira, mesmo que isso signifique navegar por mares de incompreensão e solidão. Através da literatura, eu lanço sementes. Algumas podem não germinar imediatamente, mas tenho fé que um dia crescerão em mentes férteis, onde a verdade encontrará um lar. E você, que me lê agora, é parte desse processo. Você é o eco silencioso que talvez carregue essa mensagem adiante. Porque, no fim, a verdade não precisa gritar para ser ouvida; ela apenas precisa encontrar quem esteja disposto a escutá-la.
Assim, concluo com uma reflexão: como um silencioso ouvinte pode falar na Terra dos Surdos Falantes? Ele fala através da resiliência, da observação e da coragem de transmitir algo que não se dilui no barulho. Porque no mundo onde todos falam sem ouvir, é o silêncio que tem a última palavra. No final, a pergunta ainda persiste: como um silencioso ouvinte pode falar na terra dos surdos falantes? Minha resposta, talvez, seja esta: ele não fala, ele escreve. Ele planta sementes em cada mente que esteja disposta a recebê-las. E um dia, quando o barulho for insuportável até mesmo para os surdos falantes, essas sementes brotarão.
E a Verdade, como sempre, prevalecerá! Pois a Verdade é inegociável, perante a Verdade todos calam! E, assim, o Silêncio impera! Pois, o Silêncio é a VERDADE manifestada da forma mais real, sem argumentos e justificativas de SER o que, simplesmente, verdadeiramente É!
(Esse texto foi criado sobre a reflexão desse meu conto: ‘EU’, ‘ELES’ e ‘NÓS’ escrito em 2019 e publicado em 2020)